
A noite anterior já tinha sido bem longa, porque estás a trabalhar enterrado, no que na gíria denominados de lodo…que representa o elevado volume de trabalho com o qual te estás a debater…e que vai culminar em horas extras…e na consequente perda do último comboio para casa (o da meia noite e dois minutos), tendo que esperar pelo próximo… seis e quarenta e sete minutos da matina…mas lá por volta das sete cheguei a casa…
Escusado será dizer, que mal cheguei a casa, aterrei na cama e morri para a vida durante umas boas horas…
Já perto das cinco o “feio adormecido” acorda, porque tinha um jantar com um amigo e consequente saída para a night…
Amigo chega e decidemos ir para Aveiro…chegados à cidade após algumas ideias trocadas, é escolhido como tipologia culinária, cozinha italiana e lá se vai jantar ao La Mamaroma…
Sem dúvida que o restaurante que costumo sugerir a clientes é realmente bom, e a comida divinal continua a acompanhar a conversa que há muito tentávamos por em dia…
Jantar acabado, salta a frase “siga a rusga pa night”… e como o meu amigo ainda não foi ao antro de Mira…metemos as rodas a caminho para eu lhe apresentar o spot gay da zona centro…
Aqui as coisas começam outra vez a correr mal… fazemos um cagalhão de quilómetros, e chegamos lá e a puta da disco tem um letreiro enorme a dizer: “Vende-se”.
Olhamos um para o outro…bem vamos ao menos tentar tomar um copo? Pergunta-me ele… e claro, foi a minha resposta…e decido então leva-lo ao Opção Bar na Barra…que nos obrigava a voltar para trás…
E que acontece? Já eram duas da manhã e já estava fechado…e eu com cara de cu a olhar para o meu amigo…
Nada mais havia a fazer que voltar para Ovar…
No caminho, não tendo vontade de vir para casa…vai-se lá saber porquê…digo ao meu amigo…não, não quero ir para casa sem irmos tomar um copo…segue em frente e vamos para o Porto, que depois venho para baixo de comboio…
Acertamos em cheio na noite…mais parecia a noite do azeiteiro…mas lá nos tivemos que aguentar até ao final da noite, pois só teria comboio depois das seis da manhã…
Lá saímos da noite chungosa e meu amigo deixa-me na estação de S.Bento e só no comboio…já depois de ter atirado para o chão um folaninho e lhe ter dado um pontapé no estômago, porque me tinha saltado para as costas na brincadeirinha…mas que lhe saiu cara…é que caiu a ficha… Foda-se, não tenho o carro na estação, e como vou agora de Ovar para o Furadouro??
Que se foda, vou de táxi…
Sete e quarenta e cinco, chego a Ovar…e dirijo-me ao local do táxis e o que encontro eu?? O estacionamento dos táxis…sim porque táxis nem vê-los…
Dou umas voltas a ver se algum aparece, e depois de uma hora passada nenhum aparecer e já ter verificado que também não haveria autocarros…decido por os pés ao caminho e fazer o trajecto a pé…
Mais um cagalhão de quilómetros…mas agora para fazer a calcantes, mas encaro o caminho, depois de ter passado toda a noite a dançar…apenas, como mais um desafio à minha tão robusta condição física…
E lá vou eu, sendo ultrapassado consecutivamente por pessoas da terceira idade que estão habituadas a estas coisas do exercício físico…eu estava a implementar tão afoita passada, que um engraçadinho que seguia num grupinho de ciclistas me manda a piadinha, em alto e bom som: “acelera o passo”, ao qual eu respondo…acho eu…devido ao meu mau humor…”é já seguir oh palhaço”
Cansado de ser ultrapassado por sexagenários, decido encurtar caminho pela mata…só apenas mais um erro…
Lá vai o totó pela mata e de repente ouve um barulhão parecendo uma manada de gnus a aproximar-se…era uma cambada de corredores que decidiram também eles aproveitar a mata para por em prática os seus hábitos saudáveis…e que já me começavam a irritar…mas depressa, mais uma vez sou ultrapassado e continuo a jornada pelo meio da mata…
O intuito do percurso da mata, era um, e apenas um…encurtar o caminho…
Seria muito fácil…seguiria para nordeste e iria apanhar a estrada novamente já quase junto ao Furadouro…o problema é que quando nasci, o ponteiro da bússola vinha encravado…resultando numa total ausência de sentido de orientação…em que muitas vezes, em tom de brincadeira, digo aos meus amigos, que quando deus andava a distribuir o sentido de orientação…eu estava na casa de banho a cagar…
Mas esqueci-me de um pequeno pormenor…essa estrada é frequentada por putas, sim putas no sentido lato da palavra…e quando estou quase a chegar à estrada, ouço uns barulhos estranhos vindos de um arvoredo… era uma puta a levar na crica…sim porque ao contrário dos táxistas, que aos domingos ficam com o piçalho quentinho na caminha, estas madrugam, para por cobro ao tesão do mijo dos Ovarenses…
Para não me cruzar com o quadro pitoresco, decido então continuar pela mata adentro…
Uma hora e meia depois constato a minha realidade…
Dói-me as virilhas, os músculos das pernas, os pés e…estou perdido no meio de nenhures…
Mudo então a direcção para oeste…foda-se mais cedo ou mais tarde a estrada haveria de aparecer…e passado quase meia hora começo a ouvir carros…e seguindo o som lá acabo por alcançar a estrada…deparando-me com mais um triste cenário…reconheço o troço da via…e já teria passado o Furadouro há muito…estando no mínimo três a quatro quilómetros a norte…
Para não me perder novamente, decido fazer a jornada para sul, mas sempre junto à estrada…para que não haja mais nenhum percalço…
Quando começo a visualizar o Furadouro, começo a sentir tonturas e náuseas…com certeza reflexo de fraqueza das muitas horas que já levava acordado, das muitas horas em que não comia e do desespero de terminar uma caminhada que parecia não ter fim…
Chego a casa (finalmente às 11.20)…meto a chave na porta e vejo o meu colega de casa a saltar da cama, como se esta tivesse pulgas…
Fica com aquela cara de parvo e ensonado e pergunta…como se fosse cedo…já chegas-te? E fica a fazer sala e a meter conversa comigo…e depois sai-lhe um…pensei que já não viesses…e depressa percebo o que isso quer dizer…
Não está sozinho…e estou morto e nem posso dormir…
Azarado? Não é da vista… ah e isto não é um filme…é apenas o filme da minha vida…
Meu caro Hobbes…preferia ter apanhado chatos…