sexta-feira, 13 de junho de 2008

Reaparecimentos



Nunca gostei de surpresas, boas ou más. Talvez goste demasiado de controlar todos os aspectos da minha vida para aceitar algo inesperado a bater à porta. Seja como for, não gosto. No final da tarde de hoje, recebi uma chamada (de número privado) e acabei por levar um choque quando a voz do outro lado me responde com um “olá” ao meu “estou?”. Ainda que ninguém estivesse à porta, era o passado que nela batia. Um dos meu ex’s (ainda que não tenha sido namorado, mas na prática foi como se fosse) ligava-me, uns 8 meses depois.

Andámos durante o Outono. A relação até corria bem, ainda que fosse o lado sexual a segurar todos os outros aspectos (o frio era o pretexto para nos enfiarmos sempre na cama). Eu já andava farto de tudo aquilo, a personalidade introvertida e pouco comunicativa dele não ajudava em nada a superar o vazio em que a relação se tinha tornado. Nem para a frente nem para trás, esse movimento só acontecia na cama e sem sairmos do sítio. Numa das noites, com a cabeça no meu peito, saiu-se com o clássico:

- Sabes, acho que temos de conversar…

Rapidamente percebi que estávamos em sintonia e resolvemos “ficar amigos” (uma ova, isto nunca acontece). Durante uma semana, mantivemo-nos em contacto, na habitual conversa da treta. Só não falávamos do tempo. Até que, passado pouco mais de uma semana, sou confrontado com um:

- Voltei para o meu ex, graças a ti percebi que ainda o amava.

Pensei “olha, ainda bem que foi preciso a minha pila estimular-te o cérebro para perceberes isso”, mas de facto não me senti usado nem fiquei magoado. Por ele, pouco mais além de atracção física sentia – e isso desaparece com a mesma facilidade que aparece. Dado que foi um episódio de fraco impacto, rapidamente ficou na sua gaveta e não voltei a pensar muito nele. Ainda para mais, passadas umas semanas também eu conheci alguém com quem as coisas começaram a correr francamente bem (ainda que depressa dessem para o torto). Por tudo isto, a chamada apanhou-me desprevenido.

Sem grandes dúvidas, percebi que devia estar meio zangado com o namorado (os gajos são todos iguais) e que se a conversa continuasse, iria ser o ombro dele. Se tivesse feito uma aposta com os meus botões, neste momento estava desabotoado. E, também, rapidamente as insinuações mostraram que o que queria não era apenas o ombro e que a hipótese de um colinho lhe parecia muito melhor. O “não queres vir dormir cá a casa hoje?” surgiu passado uns 10 minutos de conversa. O anjo que vive dentro de mim sugeriu o “tu namoras”, mas não foi essa a resposta que dei.

- Está muito calor.

Do outro lado, recebi um “tens de encontrar alguém, não podes continuar sozinho”. Desliguei a chamada, depois de um seguro:

- Olha, vai à merda.

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